Os podcasts de história estão vivenciando um verdadeiro boom, tornando-se um dos passatempos contemporâneos favoritos para muitos. Se você acha que história é algo do passado, tente conseguir um ingresso para o salão londrino Royal Albert Hall no dia 18 de outubro. A casa esgotou suas entradas em maio para uma noite que não será apenas sobre música clássica, mas também sobre a história. Cerca de 5.000 pessoas comparecerão para ouvir Mozart e Beethoven, mas o principal atrativo será uma dupla de historiadores.
Tom Holland e Dominic Sandbrook, os anfitriões do podcast “The Rest Is History“, são os responsáveis por este feito. Desde seu lançamento em 2020, o podcast se tornou o mais assinado da Grã-Bretanha, guiando ouvintes por uma jornada que vai desde Heródoto até a queda de Saigon, passando pelo escandaloso caso de Lord Byron com sua meia-irmã. Agora, com uma nova série sobre a Revolução Francesa lançada em 29 de julho, o podcast promete continuar sendo uma fonte de entretenimento e conhecimento histórico abandonado pela grade curricular das escolas.
Mas o programa The Rest Is History não está sozinho neste cenário. O podcast “Empire“, que já contabiliza mais de 30 milhões de downloads, recentemente esgotou outro grande local em Londres, o Barbican, em apenas dois dias. Anita Anand, uma das anfitriãs, brinca dizendo que elas são “as estrelas do rock mais quadradas que você já conheceu”, principalmente pois, segundo ela, a própria ganhou mais fama com o podcast do que em suas atuações na rádio e na TV.
O crescimento acelerado dos podcasts históricos acontece porque muitos ouvintes ao atingir os 30 anos percebem lacunas deixadas por sua educação formal e buscam preencher esses vazios através da história. Diferentemente da ciência, a história não exige um conhecimento especializado, permitindo que os podcasts criem um senso de comunidade e resgatem tradições ancestrais de contar histórias. Por essas e outras razões, os podcasts de história estão vivendo uma “era dourada”.
Apesar do sucesso, a História nunca será a categoria mais popular de podcasts, admite o podcaster americano Mike Duncan. Shows de entretenimento e esportes, ou programas de atualidades como “The Joe Rogan Experience”, continuam dominando as preferências do público. No entanto, os podcasts de história tendem a ter uma vida útil mais longa. Dan Carlin, criador do “Hardcore History“, observa que seus lucros provêm mais de episódios arquivados do que de novos lançamentos, destacando que “história é conteúdo perene”.
Nos Estados Unidos, cerca de 100 milhões de pessoas ouvem podcasts semanalmente, de acordo com a Edison Research. O tempo médio de escuta, que já ultrapassa uma hora por dia, aumentou 450% na última década. A faixa etária de 18 a 34 anos é a que mais consome podcasts, equiparando-se ao tempo dedicado à TV. Isso levou a uma proliferação de maneiras de contar histórias e explorar a história.
Na Grã-Bretanha, Dan Snow, apresentador de TV e criador do popular podcast “History Hit”, encontrou sucesso ao explorar nichos específicos, onde “superfãs” de determinados tipos de histórias se escondem. A história, no entanto, está se diversificando ainda mais no ecossistema de podcasts, com o surgimento de subgêneros como a história de comédia, como nos programas “Natalie Haynes Stands Up for the Classics”, “The Dollop” e “You’re Dead to Me”.
O crescente volume, variedade e alcance dos podcasts estão influenciando a própria disciplina da história. Neil MacGregor, diretor do British Museum e criador do podcast “History of the World in 100 Objects”, observa que os podcasts estão se afastando das grandes narrativas em direção ao diálogo e debate, criando uma compreensão mais nuançada e tátil da história.
Em resumo, os podcasts de história não são apenas uma tendência passageira, mas uma forma do ouvinte se conectar com o passado. Eles oferecem não apenas conhecimento, mas também um senso de comunidade e companheirismo, tornando a história mais acessível e relevante para as novas gerações.
Fonte: The Economist.