No post passado, tratei sobre 6 questões jurídicas para se pensar antes de começar um podcast e dessa vez eu trago aqui algo que muitas mulheres enfrentam nesse espaço.

Vou aproveitar para falar sobre importância de mulheres no podcast, sobre desafios enfrentados, não apenas na natureza íntima ou mercadológica, mas como mulheres são tratadas nesses espaços digitais. É um momento para respeitar, apoiar e refletir.

Às vezes acreditamos que as mulheres sofrem preconceito quando se mostram feministas ou produzem conteúdo feminista, mas pelo que acompanho em grupos de mulheres produtoras, é justamente o contrário: mulheres sofrem mais preconceito nos temas que são majoritariamente ocupados por homens.

Ou seja, existem dois tipos de problemas enfrentados por mulheres quando falamos de violências simplesmente pelo fato delas serem mulheres. A primeira, quando seu programa atinge muitos ouvintes, e com o crescimento vem a inveja, as duplas interpretações sobre a sua vida e a necessidade de tudo e todos. Esse é um fato social, muitas vezes aliado à inveja, algo que não temos controle. O segundo, vem em momentos que mulheres são convidadas para participar de podcasts feitos por homens ou, ainda, quando se propõem a produzir um tema “compreendido” como um tema masculino (esportes, games, tecnologia etc.).

Aproveito aqui pra dizer que não existe tema de menino nem de menina.

Lembrando daquela máxima que “internet é terra de alguém sim”, ofensas podem ser punidas se tomarmos algumas cautelas para garantir as provas. Toda mulher tem o direito de fazer um podcast no tema que quiser e se sentir confortável para isso, e nenhuma mulher merece sofrer qualquer tipo de humilhação, diminuição, ofensa ou cancelamento por qualquer que seja o motivo.
Portanto, seguem três dicas para deixar espaços mais amigáveis para mulheres nos podcasts. E caso presencie ou viva uma situação como essa, seja você homem ou mulher, aqui vai:

1. O print é sua melhor arma

Muita gente se acha no direito de falar o que bem quiser na internet, acreditando que nunca será punida pelas suas opiniões. Longe de entrar numa resenha enorme sobre liberdade de expressão, há manifestações que devem ser guardadas para si.

Antes de fazer um comentário, pense se você não está atribuindo ao seu desafeto nenhum crime previsto em lei. Se você chama de ladrão e a pessoa não é, há um crime previsto no código penal chamado Calúnia. Quem alega falsamente um crime pode sofrer uma ação penal, caso a pessoa ofendida registre um boletim de ocorrência.

Fora isso, há casos graves de homofobia e racismo, que também são proibidos por lei e causam consequências criminais.

Se você sofreu esse tipo de ofensa, sempre tire um print, constando o nome do perfil, a data e guarde o link, com mais detalhes que puder. Com isso, é possível registrar um boletim de ocorrência na delegacia virtual do seu estado.

2. Não era crime, era só desafeto.

Você já pensou que as palavras têm poder? Se você expressa sua opinião sobre a pessoa como fofoca, fato infundado, fazendo com que essa pessoa tenha alguma consequência (perda de ouvintes, perda de patrocinadores ou até mesmo sofrimento íntimo).

Ninguém disse que machismo era crime, certo?

Se alguma manifestação causar consequências dessa natureza, a pessoa pode ser punida criminalmente (difamação) ou ainda sofrer uma ação de danos morais e até materiais, se comprovado o prejuízo financeiro.

3. Viu seu co-host ou ouvinte ser um babaca? Não passe pano.

Muitas mulheres são convidadas para gravar podcasts nesse mês de março. Há até a campanha O Podcast é Delas, da nossa querida Domenica Mendes, colunista aqui do Pod Notícias.

Ocorre que, quando essas mulheres são convidadas para participar de programas conduzidos por homens, sofrem diversas violências como: silenciamento e interrupção de fala são as situações mais comuns. Fora comentários machistas, disfarçados de piadinha.

Violência contra mulher não é piada.

Por isso, se está gravando com alguma mulher e percebe que ela ficou incomodada com alguma situação, pergunte se está tudo bem. Se presenciou uma situação machista de seu colega, chame a atenção. Se seu ouvinte fez um comentário depreciando sua convidada, a defenda.

Se todo homem deixar de passar pano para um comentário machista por semana, em um ano teremos mais mulheres sentindo-se confortáveis e seguras para participar de mais programas de podcast.

E depois de todas essas dicas, lembrem-se do meme do advogado no WhatsApp antes de sair falando qualquer coisa na internet.

Aproveitem o mês de março para conhecer melhor as demandas e histórias das mulheres. Quantos podcasts você escuta que possuem mulheres nos microfones?

Fica aqui meu incentivo e provocação do mês, para que conheçam um podcast novo feito por elas.

Saiba como denunciar e buscar ajuda.

Originalmente publicado em 21 de março de 2023 em Castnews.